Quando o conhaque ERA remédio
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- Categoria: a história do vinho
Imagine a cena. O marido vai sair, e pergunta para a mulher: “Precisa de alguma coisa da farmácia?”. Ela então responde: “Sim, traga conhaque para as crianças!”. Por incrível que pareça, isso pode, sim, ter acontecido em um passado distante.
Mas, antes de continuar, vamos esclarecer o que é conhaque, afinal. Cognac, na escrita original, é a bebida alcoólica obtida pela destilação do vinho branco da região de Cognac, na França. Só que a palavra conhaque acabou se tornando sinônimo de todas as bebidas similares produzidas em qualquer outro lugar. Assim como Champagne, para o vinho espumante.
Por isso, nesse artigo optamos por escrever “conhaque”, pois estamos nos referindo aos destilados de vinho branco produzidos mundo afora, não necessariamente em Cognac. Mas, se quiser ler sobre Cognac, clique aqui.
Pois bem. A destilação é um processo muito antigo, provavelmente desenvolvido por alquimistas da Idade Média, época na qual o destilado de vinho era utilizado como medicamento de uso tópico no tratamento de gangrenas e putrefações, apesar de a ciência ainda não conhecer, àquela época, o conceito de ações desinfetantes propriamente ditas.
Com o passar do tempo, o conhaque passou também a ser utilizado como medicamento de uso interno, ou seja, que deveria ser ingerido. Sua eficiência foi defendida em um manuscrito, datado de 1310, escrito por Vital du Four (1260-1327), um físico que era chefe de uma abadia em Armagnac.
Vale uma ressalva: diz a história que o destilado de vinho consumido antigamente, como remédio, era extremamente desagradável ao paladar.
Muitas vezes visto como um tônico poderoso contra a bronquite, e até mesmo como remédio indutor do sono, antes da descoberta dos barbitúricos, o conhaque foi amplamente utilizado até em situações de emergência para estimular a função circulatória, sendo administrado generosamente em casos de hipotermia, colapso e infarto cardíaco! Mesmo não precisando, não custa nada lembrar que isso é uma péssima ideia, com base no conhecimento científico atual.
Vale lembrar que, além dos médicos que receitavam bebidas alcoólicas, como o conhaque, porque realmente acreditavam em seus poderes de cura ou de tratamento, alguns médicos prescreviam o consumo, durante períodos de proibição do consumo de álcool, como forma de burlar a lei. Para ler sobre a Lei Seca, clique aqui.
Estudos atuais mostram, de fato, benefícios dessa bebida à saúde, pela presença de polifenóis e seu poder antioxidante, assim como acontece com o vinho. Mas é muito importante ter em mente que se trata de uma bebida com teor alcoólico extremamente elevado, de cerca de 40%.
Resumindo: conhaque um dia foi, mas não é mais, remédio.
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